segunda-feira, 22 de janeiro de 2018

Uma pequena autofalatória necessária e dispensável

Este blog cumpriu sua missão. Não deposito mais esperança nele. Não o sou mais devota. Retorno ao papel, ao cheiro, ao toque na folha. Por uma exposição sem retoques eternos. Eu volto para mim. Eu me volto para o que quiser (e vou) querer. Sem mais, obrigada e talvez até logo, meu caro.

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sexta-feira, 20 de novembro de 2015

Horinhas de Descuido

Serendipidade: descobri essa palavra, por um acaso, na internet. Lia sobre o paradoxo do hedonismo. Resumidamente trata de que não obteríamos prazer ou encontraríamos a felicidade se estes forem os objetivos centrais de nossa vida. Ou seja, num de repente se é feliz. Por acaso nos encontramos satisfeitos e empolgados com novas situações. Diz a lenda que também por acaso o tal do Newton teria se dado conta da gravidade quando uma maçã caiu na sua cabeça. Não sei se acredito. Mas há inúmeros outros exemplos na ciência de serendipidade: o microondas, a penicilina e o post-it, por exemplo. Acredito no post-it. Não menos importante do que a gravidade(ou um sucesso por conta dela), foi fruto da serendipidade. Em entrevista à revista Exame o inventor Arthur Fry nos conta sobre a história do post-it. Um amigo havia construído uma máquina de adesivos de baixa aderência, mas não sabia como usá-la. Pois um adesivo deve colar, no caso. Logo um adesivo de baixa aderência não é lá uma coisa muito útil e deveria ser dispensado. Enfim, o Fry estava cantando lindamente no coral de sua igreja quando derrubou um dos livros de partitura no chão. Irritado por ser tão estabanado como quem lhes escreve, lembrou de seu amigo. Não, ele não aproveitou a ocasião para rezar pelo fracassado. O coral costumava marcar as músicas que cantariam colocando pedaços de papel rasgado no meio dos livros. Só que ao derrubar o material, os papéis também se espalharam pelo chão (Newton diz: séériioo?) e a bagunça já estava feita. Seria excelente se ainda no chão os papéis rasgados continuassem com o trabalho de marcar as páginas. Assim começou a desenvolver uma máquina no porão de sua casa, aperfeiçoou a ideia de seu amigo e a distribuiu pros colegas de trabalho como teste. Se arriscou. Hoje sua invenção é um sucesso. Ah, e ele deve ser milionário. O que deve ter lhe concedido muita felicidade e prazer.
Eu serendipitosamente aprendi com a palavra serendipidade que devemos sair a serendipidar por aí. Descobri a importância de treinar a minha capacidade de observação, testar novas formas de aumentar a criatividade. Arriscar é acreditar no nosso potencial. Arquimedes chamaria serendipidade de Eureka. Freud de insight. Guimarães Rosa de horinhas de descuido.


sexta-feira, 9 de outubro de 2015

Respeite os elefantes!


O elefante no nosso espaço

O elefante está no nosso espaço
Ele é gordo e é difícil contorná-lo.
Nós nos esprememos em volta dele dizendo: “Como vai?” e “Bem, obrigado...”
E muitas outras frases fúteis.
Falamos do tempo.
Falamos do trabalho.
Falamos de todas as outras coisas...
Menos do elefante no nosso espaço.
Sabemos todos que ele está aqui.
Pensamos todos nele enquanto conversamos.
Pensamos nele constantemente,
Pois sabe, é um elefante muito grande(...)
 Terry Knettering

Um elefante merece respeito. Algumas culturas veneram o animal, o consideram sagrado. Eu acho os filhotes uma graçaSão tão bobos! Servem até para divertir. Quem tem um sabe do que estou falando. Certo dia apareceu um desses aí na minha casa e empacou bem no meio da sala. Quando me cansava de assistir tv, pam! lá estava o elefantinho pra que me ocupasse com ele. O elefantinho cresceu e eu fui me acostumando com ele. O problema é que elefantes adultos são grandes e gordos. O meu nem permite mais que eu assista tv. Nem dá vontade, para falar a verdade. Porque quando me sento no sofá só vejo o tal elefante na minha frente. Nada mais das minhas séries, o elefante tampa toda minha visão. Certa vez, decidi que era hora de removê-lo do meu espaço. Fiquei pensando se era melhor chamar os bombeiros, o pessoal do zoológico da UCS... ou o quê. Mas conclui que ninguém conseguiria  conduzi-lo para fora de minha casa mesmo...
Se fico só no quarto e passo dias sem alimentá-lo, pam! de novo. Não tem nada de engraçado num elefante adulto. Ele brame e do quarto ouço barulhos ensurdecedores. Eu até estou tentando seguir conselhos e empenho-me em ignorar o animal. Mas um elefante merece respeito. Eu nem sei se gosto dele ou não. Eu preciso aprender a falar elefantês urgentemente! Preciso me fazer entender. Perguntaria se ele não tem mais o que fazer. Quem sabe assim vá embora de uma vez! Ou sei lá, ele poderia até ficar! Ah... se pelo menos ele saísse da frente da tv um pouco... Juro que até consideraria a possibilidade de o convidar para assistir minhas séries comigo. Era isso. Eu só precisava falar do elefante, por respeito.

 Instalação "Elephant in The Room", do artista Banksy

terça-feira, 7 de julho de 2015

As Flores de Meu Caderno

"Eu rabisco o sol que a chuva apagou". A frase é de autoria de Renato Russo, Villa-Lobos e Bonfá, compositores da música Giz, interpretada pela banda Legião Urbana. O sol não está ali, é apenas o traço de um giz que está ali. Ceci n'est pas une pipe. Ok. Embora a chuva seja do “plano real”, o sol não deixa de ser real, na amplitude do conceito de real, por ser um rabisco. Quem sabe o sol que se faz do próprio sol seja um sol muito melhor do que o sol que sabia ser sol apenas sem a chuva? Cria-se sóis.


Eu rabisco flores no meu caderno. As flores de meu caderno são sempre da mesma cor da caneta que estou usando para escrever. Geralmente tenho a azul, a vermelha e a preta na minha mochila. Mas a explicação para eu não usar a caneta vermelha, por exemplo, para enfeitar as pétalas de uma rosa é simples: não são desenhos planejados. Os rabiscos são como anotações extras do conteúdo que está sendo aprendido. A minha letra é um rabisco. As flores são rabiscos extras.
 Agora, o porquê de flores? Bom, primeiro porque se a professora chegar a olhar meu caderno (espera-se que uma professora universitária não procure olhar cadernos a fim de saber se o conteúdo foi copiado pelos alunos, como ocorre no ensino fundamental. Mas professores universitários gostam de andar enquanto falam... E alguns andam por entre as classes, com o fim de admirar desenhos alheios em cadernos alheios) não quero que se depare com uma caricatura sua ou mil coraçõezinhos infantis sobre o papel. Pode se achar um desenho de flor tão infantil quanto o de coraçõezinhos. Pensando bem, qualquer desenho em um caderno usado no contexto de ensino superior não é lá algo muito acadêmico. Nem para o pessoal do Design ou das Artes Plásticas. Eles têm conteúdos e tarefas. Sobre os conteúdos, escrevem. Sobre as tarefas, desenham. A tal da aprendizagem formal...

 Enfim, outro motivo do porquê das flores é que flores têm miolo, pétalas, cabo, espinhos, folhas e ramificações. Assim, variam! E esta diversidade enfeita e preenche bem qualquer espaço. Ademais, é variado também sua elaboração e contexto em que são rabiscadas.


Flores isoladas: conteúdos prontos, pragmáticos. Nesta categoria ou a aula está chata e permito-me ater-me aos detalhes do miolo, pétalas, cabo... Ou o assunto envolve dados históricos e conceitos os quais vou precisar decorar e pronto.

Flores emaranhadas: conteúdos difíceis ou empolgação com a aula. Não atenho-me ao cuidado com os detalhes pequenos, o traço não apresenta proporcionalidade entre os elementos.









Estas duas principais categorias de flores permitem-me recordar o que eu estava sentindo em relação a aula. É sabido que memórias que envolvem emoção são mais fáceis de serem armazenadas e posteriormente lembradas. Ou seja, identificando as emoções, fixo e aprendo mais conteúdos. Contudo, esta estratégia não é intencional. Assim como acredito que o sol que Renato e seus amigos insistem em desenhar não tenha a proposição de ocupar o lugar do sol propriamente dito. Se há conexão ou não entre meu aprendizado e as flores? Não sei. Há conexões nas ditas desconexões tanto quanto há sóis num céu. Fluir o pensamento, divagar, lidar com os próprios recursos, associar dever com o gosto... Como diz o ditado: “Tudo vale a pena se a nota da prova não for pequena”.


segunda-feira, 23 de março de 2015

A Incrível Mágica das Agendas Legais

Adianto desde já (embora deteste o termo desde já, já que a palavra me dá a idéia de agora, o que priva de qualquer sentido a sua relação com desde que indica passado) que as agendas as quais classifico como legais são aquelas com frases  no rodapé. Não importa a capa(claro que importa, é o mais importante) ou se em suas folhas os dias da semana são apresentados em português, inglês e espanhol. As capas das agendas legais  são geralmente compostas pelo design de logotipos ou de empresas ou de projetos sociais ou de escolas. Na minha experiência agendística vejo que as agendas bonitinhas não costumam imprimir em suas delicadas folhas frases célebres ou ditados populares. As agendas bonitinhas são comerciais demais.
Eu não tenho o costume de marcar meus compromissos em agendas. Eu não tenho muitos compromissos e muito menos o dom divino da organização. Então as agendas não são muito práticas para mim. E percebo que há uma lógica em se jogar fora as agendas: as agendas servem por um ano. Todo mundo sabe disso! Mas essa regra de descarte não é válida para as agendas legais.

Manual para ter uma vida longa e feliz junto de sua agenda legal de 2015, 2006 ou 2004:

  • Esqueça a agenda em uma gaveta de seu quarto.
  • Certo dia arrume o seu quarto e a encontre.
  • Consulte a data de hoje  ou abra em uma página que o destino aleatoriamente fizer você abrir. 
  • Leia a frase no rodapé.
  • Faça uma pergunta (para testar a confiabilidade das revelações da agenda) e comprove que ela realmente está te ouvindo.
  • Coloque a agenda em cima de alguma mobília e consulte sempre que precisar de qualquer resposta. 

Há um busca incessante por um significado oculto, o sentido último das coisas. Assim, a agenda legal certa poderá se transformar em um mentor espiritual ou guia filosófico. O que for! O interessante é que o destino usa as agendas legais para revelar o que não sabíamos de nós mesmos, mas que fulano escritor/cientista/filósofo sabia e não tinha tido a oportunidade ainda de nos contar. 

Hoje o meu amigo Charles resolveu palpitar na minha vida. Data escolhida: 01 de agosto deste ano, dia da amamentação e do selo postal brasileiro.

Devo cortar meu cabelo? Devo mudar de faculdade? Qualquer uma destas perguntas, se feita à agenda legal certa, será respondida com a crueldade precisa que só o pensador x poderia arriscar em dizer. Gosto tanto das agendas legais porque elas, mesmo sendo datadas, mantêm a incrível mágica da atemporalidade...

quinta-feira, 8 de janeiro de 2015

Doce no Céu

Wassily Kandinsky, o pioneiro do abstracionismo, certa vez informou: "Não há nenhum dever na arte porque a arte é livre". Assim, desapropriando-se da figura, criou uma nova forma de compor suas obras. E eu não sabia nada disso em abril de 2010.
Wassily Kandinsky, "Bleu de Ciel", 1940
Wassily Kandinsky, "Around the Circle", 1940

Quando a minha sobrinha nasceu, as horas no hospital passaram como décadas. Foi estranha a maneira como o tédio e a ansiedade ocuparam o mesmo espaço naquela tarde. Qualquer período é tempo demais para matar a saudade de quem se ama e nem se conhece ainda.
Na parede da sala de espera havia uns dois ou três quadros de Kandinsky. Antes de me levantar para ler as explicações sobre o artista debaixo da gravura, fiquei admirada com o que vi. Ou melhor, com o que parecia ver. Não há nada de concreto, sólido ou já estabelecido no sentido da palavra abstração. É aí que entra não só a intenção do artista mas a falta de imparcialidade do observador. Bebê lembra coisas fofas: travesseiros fofos, unicórnios, filhotes de panda, sorriso de criança... Deste modo, pensando na minha pequena sobrinha, o lugar transformou-se em uma ótima galeria de arte disfarçada de hospital(que não tem as paredes brancas por um acaso, eu aposto!). Coisas de Kandinsky: formas soltas e interligadas num fundo colorido, formas geométricas ou inventadas e um pouco de muita leveza. Nuvens de algodão doce foram sendo descobertas, balas de coco e trens suspensos no céu. Tudo naqueles quadrados em minha frente.
"Algodão Doce", fotografia de Catherine Ferraz

A meninice brincou nos meus olhos mais uma vez e exclamei: Kand-in-sky!

Candy in sky = doce no céu.

"Toda forma, toda cor, significa um sentimento: não existe nada no mundo que não diga nada". Wassily Kandinsky.

domingo, 7 de dezembro de 2014

Do título: Sperafique-se!

Sperafique-se: imperativo do inventado verbo speraficar.
O porquê do título: um sobrenome.
  • O som
  • A forma
Num mural de aniversariantes do mês: dia tal, João sei lá quem Sperafico. Leio: espera, fico. E fico lá, parada, lendo mentalmente o sobrenome (de novo e de novo). Anoto em um papel. 
Eu faço isso, ás vezes: mudar a lógica das palavras.
O som:
Chamo-me Léia. Mas, preste o ouvido a inventar: Lé, ia. Aonde a Lé ia? Ou a fulana Cleusa. Cle usa. Usa o quê? Ah, isso deve ser mania de estudante traumatizado com o tal de objeto direto. Quem? Ou, o quê? Assim pergunta-se ao verbo. E a resposta será o objeto direto...  aprendi na sétima série. E na oitava e no ensino médio. Só poderia virar mania.
A forma:
Desmembre as palavras e dê corpo a novos desenhos com elas. Cadastro: cada astro. Associação: associa a ação. Beneficente: ben eficiente! Ou tulipa amarela: tu, Lipa... amar ela? Meio língua de índio ou coisa de gente esquizofrênica. Mas é um passatempo divertido. (Ou necessário, em filas de banco)Aliás, passa tempo, passa! Paz: há tem? Pô...
Coisa boba.
Sperafique-se nomeia, para mim, a expressão de um chamamento, de um convite. Espera, fica um pouco com as palavras. Divirta-se! Os sinônimos pouco usados que permitem uma  aparente fala inteligente, as palavras grandes, as estrangeiras abrasileiradas, as de vocabulário específico de uma determinada profissão e as regionais.... todas servem. Até o silêncio serve-se das mais belas palavras.